22.2.12

cadê meu pó de pirlimpimpim?



Continuava a achar que quanto mais se dava, menos tinha. Mas mesmo assim gastava horas se dedicando às outras pessoas, com tal afinco que parecia ter nascido pra isso. Foi feita para se doar. Para se doer. Para salvar o outro com a oferta de um ombro. Ou de um abraço apertado, ou quem sabe uma palavra bonita na hora certa.

O que não sabia era quem a socorreria na hora que mais precisasse, pois, durante todos aqueles anos de carapuça fechada, máscaras coloridas impermeáveis a dor, impediram as outras pessoas de enxergá-la como gente. Antes, a viam como uma heroína curadora de todos os males. Uma fada madrinha com sua vara de condão e pó de pirlimpimpim.

O que eles não sabiam era que a menina chorava muitas vezes trancada no quarto. Que longe das ruas e paredes frias das semanas inteiras, ela se despia da capa de super-heroína, punha uma roupa surrada de menina que se desfaz em pranto e não se economiza.

Porque ela tem um oceano inteiro dentro dela. Porque ela pensa nos vários NÃOS que a vida lhe colocou no meio do caminho. Das várias tentativas inúteis, das sedes insaciáveis, das quebras, dos rombos, das saudades.

Era nessas horas que não tinha ninguém olhando que ela podia mostrar sua face. Aquela de menina sonhadora que foi perdendo o encanto ao passar dos anos. Aquela que foi desistindo do que queria, porque não aguentava mais ser enxovalhada pelos abutres da vida. Aquela menina que sonhara tão alto e que agora, queria um espaço qualquer, onde pudesse chorar sem medo, sem que ninguém lhe apontasse os dedos e indicasse suas fragilidades. E risse delas, o que era pior de tudo.

No quarto, a menina chorava tranquila, depois deitava, tomava seu copo de leite e logo achava um jeito de estancar o choro porque no outro dia acordaria cedo demais e tinha medo de perder o emprego se chegasse atrasada. No outro dia, a menina se recompunha, vestia sua fantasia de ultra-heroína e vazava as horas, até que um choro a descobriria ali, frágil outra vez, pronta pra ... não, ela não queria pensar mais nisso.


pelas mãos de Pipa-Cris, as que sonham.

3 comentários:

  1. Por aqui tudo é delicadeza e magia...

    Seguindo Flor!

    Bjos no coração.

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  2. É, levantar a cabeça é sempre a atitude das verdadeiras, das heroínas aqui na terra.
    Um beijo
    Fer.

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  3. Que nossas mãos tenham forças para demolir muros altos e construir infinitas pontes dentro de um abraço avarandado.

    Te abraço até perder as forças.

    Sua, para sempre,

    Pipa.

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'Que seja doce o que vier. Pra você, pra mim.'