Aqui em casa apareceu um gato. Foi ficando, foi ficando e ganhou o nome de Mimo. Depois foi a vez de uma cachorrinha toda serelepe, que foi se acomodando e ganhou espaço e comida. E brincam os dois juntos parecendo amigos de mil anos.
Aqui em casa tem peixe também. A Mariana botou o nome dele de Bartolomeu. E tem tartaruga, tem passarinho, tem goiabeira e amoreira no quintal.
Tem gente jogando bola na rua. Tem minha mãe na máquina de costura. Tem o cheiro bom do café da tarde. Tem sol ardido e um riso grudado na boca.
A vó que com seus quase oitenta anos se lembra de poucas coisas, e lá do fundo da memória, como um baú de mágico, ela tira as histórias bonitas e descarta as outras. Tão bonitas que as conta dezenas de vezes enquanto ri e chora. E cochila à tarde. E dorme cedo. E não sabe que tem Alzheimer.
A rede continua no lugar. O bule, o bolo de fubá. O pai embasbacado com as notícias do jornal. A mãe e sua caixa de remédios e chás e ervas, capazes de curar dor de barriga e até dor de amor.
Tem reza no final do dia. Tem cama que abençoa com um sono perfeito. Tem barriga cheia e um punhado de alegrias bobas. Tem o dia nascendo e trazendo com ele uma vontade toda linda de viver.
Aqui em casa parece até que o tempo parou. E ser feliz consome a gente. Demais.
Cris Carvalho
Perder tempo sendo feliz, não é perca de tempo.
ResponderExcluirQue gostosa essa rotina.
Um beijo e boa semana!!
Que texto mais lindo, me lembrou demais da minha infância,
ResponderExcluirTempo bom que guardo dentro de mim.
Ótima semana Cris!
Descrição perfeita de um cotidiano com o tempo suspenso. É um texto que leva todos à nostalgia da infância, acho. Se não a todos, a mim com certeza.
ResponderExcluirCris,
ResponderExcluirEsse é o tempo que não passa e se eterniza no nosso melhor.
Beijos.
Lu
http://www.lucianasantarita.blogspot.com.br/