31.3.12
30.3.12
O meu gostar por você
Ele pra ela: Eu gosto de você.
Ela pra ele: Gosta? E desde quando gostar é querer ver o outro pelas costas? É querer humilhar, trair e desmoronar? O meu gostar por você era nada disso. Era querer-te sempre perto. Era cuidar. O meu gostar por você era fazer leite quente antes de dormir. Era ligar pra saber se estava tudo bem quando demorava pra chegar.
O meu gostar por você era medir a temperatura pra ver se a febre tinha passado. Era ficar horas no telefone quando você perdia o sono. Era querer te ver sorrindo. Era querer-te bem.
O meu gostar por você era passar a noite inteirinha na rede e bordar planos no tecido da noite. Era remendar os trapos que você espalhava pela casa com os teus 'eus'.
O meu gostar por você era assim. Não isso duro que você me fala. Não isso seco, isso farpa, isso caco de vidro. O meu gostar por você não se mede em frascos, mas em doses de paciência e atenção, carinho e cuidado.
Mas o que você me dá é pesado e eu não aceito. Porque o teu gostar por mim tem que ser leve, tem que se lindo, tem que ser limpo.
Cris Carvalho - Um texto antigo mas que se faz tão presente.
do blog Chão de Estrelas (13/06/2010)
Seção de Achados e Perdidos
28.3.12
hoje eu acordei saudade
Tem dia que a gente acorda saudade. E tudo o que o dia pede é uma varanda com vista pro sol e uma cadeira de balanço. Revirar os guardados e desfiar memórias que trazem riso.
Nos dias em que se acorda saudade, tudo a nossa volta faz lembrar alguém, o café da tarde, o fogão a lenha, nós crianças, caçando vagalumes - um amontoado de histórias bonitas. E um mundo que não tinha complicação. No meu ontem o mundo era bonito e sem dor.
Os medos eram sempre remediáveis. E tudo se curava com colo de mãe. Com beijo de vó, banho quentinho, chá e biscoito. Tudo terminava em riso, ou pelo menos, num abraço bom.
O tempo era longo e pressa só existia no dicionário. As tardes eram gastas pulando amarelinha, brincando de boneca e jogando bola na rua. As noites só chegavam depois de muito brincar. Depois era só cair num sono duro, mas sem bicho-papão.
Tem dia que a gente acorda poesia. E tudo o que o dia pede é um mundo colorido, sem embaraços e só quem tem os olhos encharcados de poesia pode ver. Só quem tem olhos de sol é que bate o olho na pedra e vê uma garça. Vê o azul rasgar horizontes. Vê sapo chamando chuva e passarinho trocando asas.
Nos dias em que se acorda poesia, tudo a nossa volta é casa do amor. Tudo tem Deus morando dentro. E nesses dias a gente espera ficar pra sempre.
Cris Carvalho
27.3.12
26.3.12
uma dose de esperança
Toda dor evapora um dia - pensou a menina lá com seus botões. Queria engolir a pressa e viver um dia de cada vez. Infinitamente calma. Mas o tic-tac do relógio era impassível, e devolvia o medo a ela. Medo de não conseguir escapar das garras dos ressentimentos. Medo de estar para sempre presa num passado sujo. Medo de não sentir. Ou se doer, mais do que havia se doído esses anos todos.
A menina queria preencher os dias com diversão. Queria que as portas se abrissem a ela como num passe de mágica. Queria mais sim do que não. Queria um amontoado de emoções bem clarinhas. Queria pingos nos is. Passado limpo. E perdão para todos os lados.
Não aguentava mais carregar nas costas o peso do mundo. E chorava muitas vezes por não ser gigante. Chorava por não saber o que fazer com o medo. Chorava por ter sido ela mesma, ter enfrentado terremotos, cobras e leões e não ter ganhado nada com isso, nem consideração.
Mas a menina sabia que tudo isso estava prestes a acabar. Ela sentia, no fundo do fundo do peito, que o céu estava mais próximo que o chão. Que suas asas não demorariam a aparecer novamente. E com a ajuda do seu pó mágico, a menina se defenderá com todo artifício de carinho, com dispara-sorrisos e um escudo de proteção contra pessoas, línguas e dentes.
Um dia ainda, ela põe um ponto final na dor. E estará anos luz à frente de quem só a trapaceou, de quem só desejou o mal.
Revestida de todo tipo de coragem, completamente serena, a menina flutuará entre o aqui e o agora, ensinando toda essa gente a minimizar dores, dissipar maus pensamentos e passados insossos, tudo isso com uma cartilha de amor.
Uma dose de esperança é o que tem pra hoje!
Revestida de todo tipo de coragem, completamente serena, a menina flutuará entre o aqui e o agora, ensinando toda essa gente a minimizar dores, dissipar maus pensamentos e passados insossos, tudo isso com uma cartilha de amor.
Uma dose de esperança é o que tem pra hoje!
Cris Carvalho
23.3.12
pra deixar de escurecer
Jaque,
Que as coisas não são fáceis, isso é. Mas também não precisa parar no meio do caminho, né verdade? Empurra o carro, estica o ânimo, menina. S'imbora andar que o caminho se faz é nos passos da gente.
Que as coisas não são fáceis, isso é. Mas também não precisa parar no meio do caminho, né verdade? Empurra o carro, estica o ânimo, menina. S'imbora andar que o caminho se faz é nos passos da gente.
E o futuro é sempre generoso, traz a beleza de mil sóis. E risos muitos. Mas pra isso a gente tem que querer, tem que buscar. Tudo no braço e na força, é assim mesmo.
Porque a tal da felicidade é concedida somente aqueles que têm a coragem de ir buscá-la. Daqueles que se põem a caminho e vão colhendo cacto como se fosse flor.
Porque a tal da felicidade é concedida somente aqueles que têm a coragem de ir buscá-la. Daqueles que se põem a caminho e vão colhendo cacto como se fosse flor.
Segue o rumo e não esquece das preces pra agradecer. Porque a vida é bonita. É presente de uma Força Maior.
E se as coisas pesarem, canta, pra aliviar o que vem dentro. Do mais, você sabe: é nas margens que se encontram os tesouros mais formosos. E, em volta, o verde é lindo, vibra, brilha.
Cris Carvalho
22.3.12
17.3.12
sobre quedas e voos
Todos esses que aí estão
Atravancando meu caminho,
Eles passarão...
Eu passarinho!
(Quintana. Prosa e Verso, 1978)
Tomou um copo d'água com açúcar para se recuperar do susto de ter mudado no meio da noite. Pela manhã, que se abria em raios deslumbrantes de sol, descobriu que conseguia governar suas pernas e seu coração.
Não fora fácil para ela, foram anos e anos de treinamento. Mas a vontade de chegar do outro lado da luz era tão grande, que não se de desesperou e nem errou o caminho.
E o sorriso se esticou. E os olhos agradeceram. Agora era uma mulher todainteira. Que devolvia arco-íris, mesmo àqueles que mostravam ingratidão.
Cris Carvalho
16.3.12
a menina em mim
Eu era muitas. Ali, sentada na varanda, espiando a noite que passa, eu era dura. Era menina que chora e pede colo de Deus também. Era menina esvoaçante, cheia das vontades e abundantes quereres.
Era menina matreira, carregada de medos e sonhos grandões. Era menina que se cuida e se arrisca, menina que mede os passos e que se joga. Menina que morde, menina que assopra. Eu era muitas.
Ali, sentada na varanda, espiando a noite que passa, eu era firme. Era menina que estende os braços e abriga as pessoas com um sorriso. Era menina danada, cheia de palavras boas e bem-querer.
Era menina moleca, carregada de amor e de ilusões. Era menina que chora e aplaude, menina que pisa na bola e que sorri. Menina que chora, menina que vibra.
Eu era muitas. Ali, sentada na varanda, espiando a noite que passa, escolhendo a menina que caberia em mim.
Hoje eu tô pra menina semeadora do bem. Plantando sonhos nos quintais dos Homens.
Cris Carvalho
do blog Chão de Estrelas (25/02/2011)
Seção de Achados e Perdidos
14.3.12
pedacinho de amor
Para Noemyr Gonçalves,
Ela era uma menina quase azul. De poses delicadas, gestos calmos, quase que meditados. Seus olhos carregavam a doçura das poesias que ela costumava ler de dia. Suas mãos espalhavam sementes de esperança e pedacinhos de amor.
À noite, como de costume, costurava uma estrela no céu dos seus pensamentos. Para espantar as nuvens que tentavam se achegar e escurecer o que ia dentro.
Com palavras bonitas ela fazia um rosário e dividia com quem ela queria bem. E se esquecia dos traumas, das quedas, da falta de voo no momento exato.
Ela carregava no bolso pó de sim. Brincava de tingir sentimentos. Bordava finais felizes em cima de histórias que ainda não terminaram. Dormia e acordava rodeada de estrelas. E anjos da guarda, que a guiavam pelo caminho bonito e todo enfeitado de Deus.
A menina, com suas mãos de fada e alma de aquarela, vivia num faz de conta que não era faz de conta coisíssima nenhuma. Era tudo verdade e mais um pouco. Porque ela acreditava que o mundo que ela sonhava morava do lado de dentro, bastava fechar os olhos e ativar o botão da vontade.
Ela, a menina quase azul, artista principal no palco da Dona Vida.
E sim, ela é bonita, é bonita e é bonita.
Cris Carvalho
das aprendizagens
Ela pensava em flores o tempo todo. E sabia que conseguiria se recuperar do susto, mais cedo ou mais tarde. Porque aprendeu a desconfiar das máscaras coloridas. E dos toques. Das palavras bonitas. Das muitas tentativas de aproximação.
Mas ela ainda guarda o que ela sonhou ser verdade. Que aquela pessoa que a ferira fundo do peito, no fundo do fundo do peito, tivesse um pingo de consideração.
Cris Carvalho
doses de cuidados
No peito, uma orquestra sinfônica. Talvez um bumbo num desfile 7 de Setembro. Talvez os dois juntos e misturados, tamanho alarde que se fazia. Quase que não cabia no peito.
Parecia que queria era saltar pra fora e abraçar todomundo - o coração. Mas só naquela hora. Porque depois veio o susto. Aquele de novo. Que levou a menina pros caminhos ziguezagueantes. Que a deixava descalça no campo dos sentimentos.
Então ela acendeu um incenso. Botou Chico pra tocar, como é de costume, e desviou todos os pensamentos impuros, viajando pra bem longe do lugar que fica a torre de comando da dona tristeza.
E ficou alegre outra vez. Desse remédio ela toma uma dose por dia.
Cris Carvalho
13.3.12
ela é feita de sonhos
Lírio azul tatuado nas costas. No braço esquerdo uma fitinha do Bonfim. Aperta com força uma medalha de São Jorge. Traça o sinal da cruz. E segue, na esperança de um dia encontrar um lugar onde caiba ela e sua grandeza. Porque ela é toda feita de sonhos. De sorrisos bonitos também.
Nela não cabe a tristeza. Perdoa rápido porque tem preguiça de carregar peso. Ela toda uma terra santa. Se esquece facilmente porque a Lispector sussurrou a ela que essa seria sua válvula de escape. E dorme e acorda e sonha com um mundo mais limpo.
Prefere o azul ao vermelho. Ri com força, acha graça em tudo, dança, pinta e borda. Passa o dia a sonhar coloridices. E enfeitar pensamentos com palavras lindas.
Tem no peito uma marca de nascença: a coragem. Que a impede de ver pequeno, mesmo quando as coisas vão mal. Mesmo quando a desesperança insiste em bater à porta. Mesmo quando o fantasma da insegurança a segura pela mão.
Borda delicadezas no dia. Planta girassóis no vento. E se desfaz do fio cinza e triste das lembranças grosseiras, botando no lugar um presente cheio de cores, flores e borboletas.
Porque ela aprendeu com a vida que ser feliz é mais fácil, então ela não dá voz ao choro e aos maus pensamentos. Desobedece a tristeza dez vezes ao dia. E não pensa duas vezes antes de colocar um sorriso no rosto.
Cris Carvalho
8.3.12
é de flores que eu falo
Vim aqui pra falar de flores. Pra falar dessa gente luzeira que acha sempre um jeitinho de iluminar nosso caminho. É uma palavra bonita de cá, um sorriso de lá e pronto, nossa alma acesa outra vez.
É dessa cambada que cresce na vida da gente de um jeito mágico. Que faz abrigo com as palavras pra gente morar. Faz problema virar marmelada, faz doce e festa em cima do tédio.
E são elas, que acendem a alma e repõe alegrias, que eu quero ter pra sempre ao meu lado. Gente que não conta vantagem, gente que não disputa, gente que ri alto e lê poesia.
Gente que vê riso em tudo, carregada de sol e harmonia.
Gente que sonha, que desaprende medos, que borda histórias com fios de amor e cuidado. Gente que respeita, que costura finais felizes em cima de histórias tristes.
Gente que costura nuvens, que planta risos no quintal do vizinho.
Gente que luta todo-santo-dia contra o mau humor, sementes do mal e gente ruim.
Essa gente que tem a bandeira da auto-estima hasteada no peito.
Essa gente que luta, que briga, que sofre, mas que continua em pé.
Gente aprendiz de girassol. Que espalha pólen de luz. Que acaricia a alma com requintes de delicadezas. Com palavras de carinho, com toques de acalanto.
Gente como a gente. De poucos nós. Feitas de abraços e de risos.
Gente que é flor. Com jeito de sol.
Cris Carvalho
7.3.12
com muito coração
Os dias não a esmagarão, nem com toda força que há no cotidiano. Ela encontrará meios de sacudir a poeira do tempo e bordar uma história com final feliz. De afastar os pensamentos que a incomodam e colocar no lugar, um sonho de cor azul.
Ela abafará os medos. E então, perdida de amor e coragem, abrirá com as mãos, nos dias cinzas, uma fenda que a levará para um tempo de amor e delicadezas. E se renovará. E bordará novas asas. E ganhará novos ares, novos halos, novos tons.
Ela está decidida a não parar no meio do caminho. E nunca mais desacreditar de seus passos. Carregará todo tipo de emoção clarinha e coragem graúda.
Ela não se deixará intimidar pelos outros e pelo que os outros pensam dela. E plantará sementes de carinho a sua volta. Porque a fome dela é de flores, mais que de pão. E de palavras bonitas que enfeitam pensamentos e desanuviam os olhos.
Não leva mais na bolsa rancores, nem gente mesquinha e miúda. Passou anos tentando achar fórmulas que levassem pra longe essa gente pesada e sem coração. Porque o que ela não suporta é língua ferina e maldade pura.
Ela pensa em construir mais sonhos e não se desfazer dos antigos. Ela quer o verde dos dias. Porque ela é mulher guerreira, desbravadora de mares e cotidianos, carregada de fé e amor por muita gente.
Porque ela é mulher de aço e de flores e com muito coração. Ela é Maria. Ela é Ana. Ela é Josefa. Helena. Marina. Ela é eu. Ela é você.
Mulheres sonhadoras rendeiras que somos.
- Um jeito que encontrei de homenagear essa mulherada linda no dia internacional da mulher. Parabéns pra vocês. Parabéns pra mim! -
Cris Carvalho
6.3.12
o que vive dentro não morre
Depois de se banhar no reino das águas claras, a menina se lembrou daquele bosque onde passeava quando criança. Se lembrou das vezes que fugia pra lá quando as coisas pesavam demais.
Era dar-se por falta de Ana, que Ana estava no bosque com seu vestido estampado, pipoca na mão. Ela gostava de olhar e ver. Olhar gente animada. Olhar bicho passando. Olhar as flores e os passarinhos. Olhar as folhas caídas. Olhar as crianças brincando.
Olhar, olhar e olhar. Que alegria era aquilo! Ela queria guardar tudo com ela. Levar o mundo no bolso.
Depois de se lembrar de tudo isso, os apertos esmiuçaram, o semblante amanheceu e a menina se fez forte. Tornou-se um pouco mais feliz ao mudar o trajeto do trabalho pra casa, que passava pelo bosque, que não era mais bosque, mas vivia dentro dela.
Uma alegria acendeu os olhos de Ana quando ela se deu conta que, dentro do coração, tudo continuava igual. Porque o que vive dentro não morre.
Cris Carvalho
5.3.12
nuvem que passa
Sentada num banco, às três da tarde, com os olhos desimpedidos de chorar. Espiritualmente mansa. Inteiramente confusa. Com fumaça se instalando no fundo dos olhos, como lembrança do que foi um dia: Toda embaçada.
E ela espera como quem espera alta num leito de hospital. E vira pó no momento que 'o outro' vira a esquina. Ela tem esse desdom. De virar pequena quando as coisas vão mal. Só se salva quando tem palavra bonita do lado de lá.
Mas, hoje, sua fada madrinha se ausentou por motivos de saúde. Disse que até parecia domingo por dentro. E ela não questionou. Sabia que as fadas tinham seus direitos. E férias de sentir. Pra poderem voltar mais inteiras.
O 'João' aparecia, vezenquando, pra tentar mudar o semblante dela. Da menina sentada no banco, às três da tarde. Mas, ainda, ela estava carregada. Não tinha sinais bons em sua testa.
O que ela sabia era que aquilo era nuvem que passa. Que ela não nasceu pra ser caco de vidro espatifado. Ela queria o verde dos dias. E era só questão de tempo.
Passa. Passará. No céu, várias possibilidades de SIM.
pelas mãos de Pipa-Cris
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